quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

TUDO ISSO É POR SUA CAUSA

Boate Tibo’s Club – Londrina – PR – 03:39

- Será que eles estão no camarote? – perguntou Du.

- Provavelmente foram embora. – respondeu Pedro – Mesmo assim, combinamos e o mínimo que podemos fazer é ver se ainda estão esperando. Se não estiverem, já sabe o que dizer depois, não?

- “Nós atrasamos uns 20 minutos por causa do trânsito e, quando chegados, vocês não estavam lá”. Aí os chamamos de irresponsáveis e imaturos. Nunca falha.

- Eu não queria eles por perto quando encontrássemos o Bondoso. Sabe como é, eles ficaram abalados com o que viram no aparamento, imagina se vissem o que fizemos.

Pedro abriu a porta e foi entrando no camarote quando se deparou com um casal aos beijos.

- Acho que foram embora. – disse Pedro voltando-se para a porta - Vamos procurar nosso rumo também. Amanhã será outra noite daquelas.

- Parou, parou! – disse Du caminhando até o casal – Você não reparou quem ta se pegando aqui? – começou a rir.

- Puta merda! – gritou Pedro fechando a porta do camarote – A gente se matando pra conseguir alguma informação e vocês aqui, só na sacanagem! Irresponsáveis!

- A culpa foi minha. – disse Roberto – Ela não resistiu aos meus encantos.

- Vocês estão atrasados mais de sete horas. – disse Natália arrumando o vestido – Queriam que e a gente ficasse rezando?

- E cadê a ética profissional? – perguntou Pedro.

- Não precisa ficar com ciúmes. – respondeu Roberto – Além do mais, você sumiu e mandou ficarmos juntos.

- Então, na próxima eu te mando rodar bolsinha. – disse Pedro sentando-se num dos sofás.

- Mas e aí, descobriram alguma coisa sobre o Pai Bondoso? – perguntou Natália a Pedro.

- Ele era um infanticida de merda. Mas agora está de férias, num lugar quente e cheio de amiguinhos. – disse Pedro – Preciso diminuir o estresse, me dá um cigarro.

- Mas ele disse por que matou o menino? – perguntou Natália acendendo um cigarro e entregando-o a Pedro.

- Ao que tudo indica, ele foi contratado para o serviço. Nem sequer sabia quem éramos nós.

- E, com certeza, você tem um nome. – disse Roberto.

- Você ta ficando mais esperto. – disse Du – Andar comigo ta te fazendo bem, né?

- Invejoso. – resmungou Roberto e deu um gole no uísque – Imagino o que vocês fizeram pra arrancar essas informações, se bem que o cara merecia o pior.

- O estranho nisso tudo é que, ao que parece, o nome que consegui tem contato com um anjo. – disse Pedro – Algum de vocês tem treta com anjos ou aprontou alguma coisa absurdamente foda?

- Acho que o único que tem treta direta com anjo aqui é você, Pedro – disse Du, pegando o copo de Roberto sobre a mesa e dando um gole – Essa porcaria ta com mais água que o Amazonas.

- Eles estão atrás de alguma coisa e eu não tenho a menor idéia do que seja. – disse Pedro – Sei que alguns anjos não vão com a minha cara, mas isso é rixa antiga. Bem, se estiver errado, e o problema for só comigo, resolverei amanhã mesmo.

- Falou aí, “Ceifador de Anjos”! – brincou Roberto.

- Matar um anjo não é tão difícil. – disse Pedro a Roberto – Tinha mais ou menos a sua idade quando matei o primeiro. O segredo é enfrentá-los à noite. Assim como nós, amaldiçoados, somos limitados pelo Sol, os anjos enfraquecem durante a noite. É isso que mantém o equilíbrio e impede que um dos lados domine facilmente a Terra.

- Então, vão quebrar o pau com esse anjo agora mesmo! – se animou Roberto.

- Daqui a pouco amanhecerá. – disse Du – Os anjos enfraquecem, mas não ficam totalmente vulneráveis à noite. Por isso, é melhor procurá-lo no começo da noite, pois não sabemos quanto tempo durará a luta.

- Quer saber, eu vou embora aproveitar minha suíte e, amanhã, quando terminarem o serviço, me contem como foi. – disse Roberto se levantando do sofá.

- Você não vai ajudar? – perguntou Natália.

- Ele ta certo. – disse Pedro – E se você for esperta, fará o mesmo. Não podemos garantir a segurança de vocês, até porque não sabemos o que nos espera.

- Mas eu gostaria de ajudar. – disse Natália – Não tenho medo de morrer e...

- E alguma vez você esteve prestes a morrer? – interrompeu Du – Morrer é fácil. Você deveria pensar em quão doloroso isso pode ser. Além do mais, estamos lidando com um anjo e ele pode te matar, arrastá-la para a luz e mandá-la pro inferno.

- Não me entenda mal, mas você atrapalharia mais do que ajudaria. – disse Pedro.

Natália retirou uma caneta e um pedaço do papel da bolsa. – Esse é número do meu celular e do hotel em que estou. Me liguem pra contar como foram ou se mudarem de idéia. Ou melhor, anotem os telefones de vocês, sei que ficarei preocupada se não tiver notícias. Amanhã eu ligo pra ver como estão.

- Pede o Orkut deles também! – disse Roberto impacientemente – Vamos, baby, preciso de uma carona.

- Por que não enfia as chaves do carro no pescoço dele? – perguntou Du a Natália.

- Acabei de me perguntar a mesma coisa. – respondeu a morena – Até amanhã e boa sorte.

Hotel Esplendor – Londrina-PR – 3ª noite, 20:06

- Já vou! – gritou Du a alguém que batia incessantemente na porta – Derruba que é mais rápido, porra!

- Por que não demorou mais? – perguntou Pedro ao amigo.

- Boa noite pra você também.

- Cara, deu merda! Merda total!

- Como assim?

- Acabei de receber uma ligação do celular da Natália. Pegaram ela e o Roberto. Santana quer nos encontrar.

- Não sei porque você ta preocupado, a gente ia atrás dele de todo jeito.

- Sim, mas ele nos procurou e disse pra irmos onde funcionava o LondriBingo, no centro da cidade.

- Mais fácil ainda.

- Você não ta vendo nada de mais nisso tudo? Eu e você iríamos atrás dele hoje. Natália e Roberto sabiam também e foram pegos. O que não entendo é como ele sabia.

- Ele foi mais esperto que você e está um passo a frente, só isso.

- Quer saber, eu vou pegar esse Zé Ruela de calça curta! Abre um portão pro meio desse bingo!

- Só um segundo, Miss Daisy. – Du fez fechou os olhos, se concentrou e, após alguns segundos, fez um sinal negativo com a cabeça – Não vai rolar.

- Como assim? Ta de sacanagem?

- Não dá. Deve ter um círculo de proteção no local ou alguma coisa que ta me bloqueando. Não posso entrar lá.

- Vamos arrumar um carro então

- Será que eu virei o paranóico da dupla? Você não pode entrar lá! Pra ser mais direto só se escreveram “cilada” na entrada do bingo!

- Minha morena ta encrencada, Du.

- Tua morena? Se bem me lembro, era com outro que ela tava trombando a língua ontem.

- Ela ainda não percebeu meu potencial, só isso.

- Deixa de besteira e vamos montar um plano antes de sair chutando o balde de merda.

- Não dá tempo. Tenho que estar lá às 20:30.

- Dentro do bingo eu não posso te deixar, mas em frente sim.

- Vamo nessa.

LondriBingo, 20:25

- Pedro, é última vez que aviso, desista! Têm seguranças na entrada, três carros com motoristas a postos e eu não posso te ajudar!

- Esse cara me desafiou, Du.

- E como você é superior vai deixar pra lá, certo? O que tem de mais ele estar atrás de você? Daqui um século ele estará morto, você não.

- Eu sei que você vai dar um jeito de me ajudar.

- Tem algo forte aí, Pedro.

- Então, adeus velho amigo.

Pedro sorriu e, sem dizer mais nada, caminhou sozinho até a entrada do bingo, onde foi revistado pelos dois seguranças que guardavam a porta. Um dos seguranças o acompanhou até uma escadaria nos fundos do estabelecimento, após o antigo salão de jogos. – Daqui pra frente você vai sozinho. – disse o segurança. Pedro, então, se deu conta que, há séculos, sempre teve a companhia de Du, mas dessa vez estava sozinho e não tinha mais volta. Desceu as escadas e abriu a porta que havia no final, entrando, em seguida, num cômodo subterrâneo tão grande quanto o salão de jogos. Natália estava amarrada a uma cadeira no centro do salão. Contou seis capangas espalhados – quatro portando metralhadoras e dois com rifles. Roberto estava do lado esquerdo de Natália e, do lado direito, estava um anjo, com grandes asas, trajando uma túnica branca e um homem de uns trinta e poucos anos, vestido de modo informal, mas ostentando roupas e relógio de marcas caras.

- Deixa eu ver se acerto: Giovane Santana, Eniael, Natália e o traidor – disse Pedro apontando para o grupo no centro do salão, da direita pra esquerda.

- Exatamente. – disse Santana – E você deve ser Pedro.

- Desconfiei, depois de falar com o Bondoso, que alguém do grupo estava sujo. – disse Pedro olhando para Roberto – Não ligo pra quanto te pagaram para me entregar, mas não entendo porque colocou a garota no meio disso.

- Ela chegou a mesma conclusão no caminho de volta para o hotel. – disse Roberto – Não poderia deixá-la contar a vocês. A propósito, cadê o seu amigo?

- Ta te esperando lá fora, vai lá. – respondeu Pedro – Alguém poderia me dizer o por que de tudo isso?

- Sem problemas, Pedro. – disse Santana – Tudo isso é por sua causa. Meu trabalho é ajudar pessoas, sabe, auxiliar em problemas que elas têm dificuldades. Um milionário norte-americano estava oferecendo uma boa grana para quem lhe entregasse, vivo ou morto, o vampiro que matou seu pai há uns dez anos atrás.

- Quinze. – corrigiu Pedro – Se está falando de Maurice Maddox, faz quinze anos em março.

- Por que acha que é dele que estou falando?

- Porque, recentemente, comentei sobre esse dia com Du. Anastácia, uma prostituta de luxo de Nova Iorque, me ligou indicando esse serviço. Nós a conhecemos no aeroporto JFK quando fugimos para o Brasil. Eu fui amigo do pai de Maurice e o conhecia desde que usava fraldas. Era... um grande amigo.

- Um grande amigo? Você o matou! – disse Roberto rindo.

- Eu não o matei. Ele me disse que tinha se apaixonado por uma vampira, que queria largar a família e ficar com ela. Reclamou que estava ficando velho e ela não queria transformá-lo, então, me ofereceu dinheiro para poder viver com a amada. Eu precisava de dinheiro e ele do meu sangue, mas ajudei porque era meu amigo. O problema é que o filho dele apareceu de repente, viu o pai no chão e começou a atirar em mim, daí chegaram os seguranças e coisa ficou feia, tive que pular da janela do 35º andar. Eu não podia matar o filho do meu amigo.

- Então, confessa que não cumpriu sua parte? – disse Santana.

- Eu cumpri! Quando o rapaz chegou eu já tinha dado meu sangue para Maurice, estava tudo certo. Quando se transforma em vampiro, dessa forma, leva um tempo para se mover, o corpo dói, a cabeça também... ouvi de alguns vampiros que só conseguiram se mexer depois de dias.

- Então, o que deu errado? – perguntou Santana.

- Os médicos, a família, todos tinham certeza que Maurice estava morto. Se tivessem apenas enterrado-o, eu o ajudaria a sair da cova na noite seguinte, mas resolveram fazer um velório... coisa de grã-fino, ao ar livre... à tarde... Os jornais noticiaram como combustão humana espontânea.

- E, assim, tudo ficou mais claro. – disse Santana – Mas isso não importa. Acho que o filho de Maddox te perdoará.

- E qual é a sua? – perguntou Pedro ao anjo.

- Não dirija a palavra a mim, subumano. – respondeu o anjo.

- Ou você vai fazer o quê? Dar uma volta comigo sobre a cidade?

- Posso arrancar sua cabeça agora mesmo, imundo. – disse o anjo se aproximando de Pedro.

- Então, prepara pra sujar as patinhas.

- Eniael, chega! – gritou Santana.

- Por que o passarinho te obedece? – perguntou Pedro a Santana.

- Ele só quer a sua chave e eu preciso de você vivo, é esse nosso acordo. – respondeu Santana.

- E pra quê?

- Essa chave era de um de meus irmãos e você a roubou quando o assassinou. – disse Eniael.

- Esse eu me lembro como se fosse ontem! – disse Pedro dando uma gargalhada em seguida - Tava quase amanhecendo quando terminei de arrancar as penas daquela franga! – gargalhou novamente.

Eniael agarrou o pescoço de Pedro com a mão esquerda e o ergueu do chão.

- Vai, frangão, me mata! – disse Pedro encarando o anjo.

- Eniael, tenha calma. – disse calmamente Santana - Se matá-lo, nunca saberá onde está a chave.

O anjo soltou o vampiro, mas continuou próximo, prestes a atacá-lo novamente.

- Você tem acordos com todo mundo. – disse Pedro a Santana – Posso fazer uma proposta?

Santana de Pedro e disse em seguida – Acho difícil me convencer de algo, mas diga.

- Eu digo onde está a chave, mas você solta a garota e me entrega esse traidor. – disse Pedro apontando para Roberto.

Santana estendeu a mão direita a Pedro, cumprimentou-o, sorriu, e disse – Fechado.

Pedro abriu um longo sorriso para Roberto, que correu para trás de uma pilastra.

- Não! Espera! – gritou Roberto vendo que Pedro se aproximava dele – Eu não fiz nada! Não machuquei ninguém! Não!

Pedro saltou sobre Roberto, que bateu as costas no chão. O vampiro juntou as mãos e bateu violentamente contra o peito do traidor, rasgou a pele e abriu a caixa torácica.

- Não vai comer o coração dele ou tomar o sangue? – perguntou Santana.

- Não como porcaria. – respondeu o vampiro observando o coração de Roberto diminuir os batimentos até parar. Olhou para Natália e viu que um dos capangas a desamarrava. Tirou o celular no bolso esquerdo da calça e ligou para Du. – A garota ta saindo, leve-a pra algum lugar bem longe daqui. – desligou o telefone e o colocou novamente no bolso.

- Agora, me diga onde está a chave. – disse Santana.

- Está enterrada a dez passos dos restos da grande árvore dos Campos da Aniquilação. – respondeu Pedro olhando para o anjo, contendo-se para não gargalhar novamente.

- Campos da Aniquilação? – perguntou Santana – Onde fica isso?

- É um dos campos do inferno. – respondeu Eniael.

- E aí, quem vai lá buscar? – disse Pedro não contendo a risada.

O anjo correu e desferiu um soco na face esquerda de Pedro, arremessando-o contra a parede. – Agora eu não tenho motivos para deixá-lo vivo, subumano! – gritou o anjo, dando mais um golpe, mas dessa vez Pedro se esquivou e lhe acertou uma joelhada no estomago, que o fez cambalear para trás. Pedro se preparou para atacá-lo novamente quando começou a ser atingido pelos disparos dos seguranças.

- Não economizem balas! – gritou Santana – Ele precisa perder sangue, por isso, atirem a vontade!

- Ordene que parem! – gritou o anjo a Santana em meio ao barulho ensurdecedor dos tiros – Eu tenho que matá-lo!

- Não, Eniael! – gritou Santana – Peça ao chefe, se ele deixar, você mata o vampiro.

Quando acabaram as balas, o corpo de Pedro estava despedaçado em meio a uma poça de sangue e restos de roupas.

- Muito bem, cavalheiros! – gritou Santana aos capangas – Agora, recolham o que tiver sobrado de carne e osso e coloquem naquele balde. Entregaremos a encomenda ainda hoje.

Um comentário:

  1. Gui

    Como ja te disse, gosto muito do seu estilo de escrita...livre e rapido...prende a atencao do leitor!!!
    Portanto, proximo post por favor, pq estou curiosa pra ver como continua!!!!

    beijos

    Fran

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