sábado, 9 de janeiro de 2010

NÃO É PELO DINHEIRO, É PELA DIVERSÃO

Hotel Sweet Dreams – Ribeirão Preto-SP – Agosto de 2009.


- Du, lembra aquela vampira que conhecemos no JFK?

- Do JFK eu lembro bem. Você, pra variar, tinha feito cagada e a gente teve que fugir dos EUA. Faz quanto tempo isso, uns dez anos?

- Na verdade, faz quinze em março.

- O tempo voa quando a gente está se divertindo. Mas o que tem ela? Anastácia... não lembro o sobrenome, mas lembro da bunda. Que bunda!

- Anastácia Smith. Ela é prostituta de luxo em Nova Iorque.

- E só agora você me conta isso! Passa o telefone dela!

- Deixa de ser besta, é sério. Ela me ligou ontem. Disse que foi procurada para um serviço e queria saber se estávamos disponíveis.

- Sou um demônio de família, não vou fazer programa.

- Hoje você acordou empolgado, não?

- Ta bom, parei. Qual é o serviço?

- Precisamos primeiro ligar pro contato dela. Não explicou o que é, só disse que estão dispostos a pagar bem.

- Você vai morrer por causa dessa ganância toda.

- Não é pelo dinheiro, é pela diversão. Mas dessa vez é você que decide. E aí, vamos ou não?

- Pega o telefone, vamos ver do que se trata.

- Já liguei. Jatinho fretado com destino a Londrina partindo em quarenta minutos.

- Filho duma puta!



Boate Tibo’s Club – Londrina-PR – 00:15


- Espero que você esteja cobrando por hora. – reclamou Du.

- Porque essa impaciência toda? Tem nem meia hora que estamos aqui.

- To achando que tomamos bolo, isso sim.

- Até que enfim!

- O contato chegou?

- Que nada. É uma loira cavala que to secando desde que chegamos e agora ela olhou pra mim! Rápido, dá uma caneta!

- Quer saber, não nasci grudado contigo. Me liga depois contando o que aconteceu. Fui!

Quando Du se levantou e foi ao caixa pagar a comanda, um dos seguranças se aproximou.

- Sr. Edunaldo Pereira?

- Se repetir isso eu te mando pro hospital.

- Queira me acompanhar aos camarotes. – disse o segurança mantendo a fisionomia séria.

- Abusado.

Ao lado da porta do camarote indicado pelo segurança estavam quatro homens de terno. Mais seguranças? Porque não chamaram o FBI de uma vez? – pensou Du. Um dos seguranças abriu a porta, fechando-a após a entrada de Du, que entrou sozinho. Sentado no sofá do lado oposto do camarote estava Pedro, no do centro um jovem casal, e no que ficava com as costas voltadas para a porta havia um homem mais velho com uma caixa branca ao lado.

- Aqui não é o banheiro? Oops, porta errada. – disse Du levando a mão à maçaneta.

- Qualé, Du, ta tudo tranqüilo! – disse Pedro.

- Pedro, é uma cilada! Roubaram nosso caminhão! To fora! – disse Du ao amigo.

- Pra que esse drama todo? – perguntou a mulher a Du.

- Drama? – disse Du voltando-se a mulher – Uma sala que tem apenas uma saída, sem janelas e com quatro armários plantados do lado de fora, só pode ser piada!

- Como se isso fosse capaz de impedi-lo. – disse a morena.

- Realmente, se é quem pensamos ser, não terá problemas para sair daqui. – disse o homem sentado ao lado da mulher.

- Ta achando que me assusta, Zé-bunda? Se acontecer alguma coisa, teu pescoço é meu. – disse Du posicionando-se, de pé, ao lado do sofá que estava Pedro.

- Acabou a gracinha ou o Zé-bunda vai ter que buscar um calmante pra princesa? – disse, sorrindo, o jovem que estava com a mulher.

- Porque não busca um pé de cabra pra tirar meu pé do teu rabo? – retrucou Du.

- Chega de enrolação, senhores. – interrompeu o homem de terno – Edunaldo, Pedro, meu nome é Ademar Gonçalves, advogado do Dr. Linhares, e esses são Natália e Roberto.

- Edunaldo? Ta de sacanagem! – provocou Roberto gargalhando.

- Chega de diplomacia. – disse Du partindo pra cima de Roberto.

- Isso vai ser engraçado. – comentou Pedro.

- Se brigarem eu cancelarei o contrato! – gritou o Ademar – Vocês são uma equipe, por isso, respeitem-se! Agora, vamos negociar ou as crianças ainda querem ver quem tem o brinquedo maior?

- É isso aí, diversão só depois do serviço. – disse Pedro pondo-se entre Du e Roberto.

- Prestem atenção no que vou dizer, pois não quero perder tempo repetindo. – disse Ademar – Se tiverem alguma pergunta, peço que esperem eu terminar de falar. - abriu a caixa, retirou quatro envelopes e entregou-os ao grupo – Essas são as informações que temos sobre o desaparecimento do filho mais novo do Dr. Linhares. A criança tem oito anos e foi seqüestrada há cinco dias quando voltava da escola. O motorista foi encontrado morto, na manhã seguinte, em uma rua de Cambé. A polícia não tem pistas e não houve contato até agora. Perguntas?

- Tem uma lista de inimigos do Dr. Linhares? – perguntou Pedro.

- O Dr. Linhares não possui inimigos. – respondeu Ademar – É oncologista, possui algumas fazendas, sem dívidas, nunca se envolveu com política. Não temos suspeitos, por isso buscamos vocês.

- E como é que chegou até nós. – perguntou Roberto.

- O Dr. Linhares utilizou os serviços do irmão de Natália, que a indicou. Entrando em contato com uma amiga nos EUA, ele obteve o nome de vocês três – explicou Ademar.

- Amiga? O doutor é chegado numa pouca vergonha cara, isso sim. – brincou Pedro.

- Anastácia... que saudade daquele pandeiro. – suspirou Roberto.

- Vaca mercenária dos infernos. – disse Du.

- Por favor, vamos nos concentrar no seqüestro. – pediu Ademar - Alguma idéia de por onde começar?

- É possível investigar o veículo ainda hoje? – perguntou Natália.

- Claro, podemos ir imediatamente, o carro está na residência do doutor. – respondeu prontamente Ademar.

- Legal, bacana – interrompeu Pedro - mas como ninguém comentou, eu pergunto: e quanto a gente ganha?

- Bem, o doutor está disposto a pagar cem mil reais a cada um. O problema é que – disse Ademar meio sem jeito – agora ele não tem esse dinheiro, mas está se desfazendo de parte do patrimônio e em algumas semanas serão feitos os pagamentos.

- Isso ta com cheiro de calote. – resmungou Du a Pedro.

- Calote? Ele teve o filho seqüestrado! – disse Roberto.

- Se está tão sensibilizado, pode me doar a sua parte. – provocou Du – Aceitarei de bom grado.

- Prefiro por fogo. – respondeu Roberto.

- Vocês vão continuar com esse papo de ogros ou vão trabalhar? – perguntou Natália se levantando e tirando do bolso as chaves do seu carro.

- E perder a diversão? – levantou-se Pedro, sorrindo para Natália – Eu dirijo.

- Nem pense em dar em cima de mim. – disse Natália a Pedro – Acabando o trabalho cada um segue o seu rumo.

- Ta se achando, né? Só estou mostrando que sou cavalheiro. – disse Pedro tomando as chaves de Natália – Ademar, tu vai na frente porque eu acho que não sei o caminho.

- Pra falar a verdade – disse Ademar - iremos todos no mesmo carro.

- Que pobreza! – reclamou Pedro – Mas, ainda assim, eu dirijo.

Um comentário: