quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

QUEM SÃO OS BONZINHOS DA HISTÓRIA?

Algum lugar no interior de São Paulo – 19:48

- Tem como parar num posto? – perguntou Natália.

- Posto? Não percebeu que estamos no meio do nada? – disse Du.

- Mas estamos dirigindo desde as duas da tarde! – reclamou Natália.

- Correção, eu estou dirigindo. – respondeu Du.

- Eu preciso ir ao banheiro! – gritou Natália.

- E o tanque está quase vazio. – disse Du a Pedro que estava sentado no banco de trás fazendo algumas anotações numa agenda.

- E eu quero uma cerveja! – gritou Pedro – É hora do chilique coletivo? Que saco, estamos quase chegando, porra! Avisei o Tony que precisaríamos de combustível e cerveja e acho que tem um banheiro na casa dele, se não tiver, contente-se com uma simpática moitinha.

- Sempre precavido – disse Du.

- Ta nervosinho por que? – perguntou Natália – Quando tava no porta-malas dormiu com a chave de roda enfiada no rabo?

- Você tem andado demais com o Du, sabia? – disse Pedro – Eu só to encanado com tudo que aconteceu em Nova Iorque.

- Encanado com o que aconteceu com a gente ou pelo Maddox ter se matado? – interrompeu Du.

- Não acho que o Maddox tenha ficado puto a ponto de fazer isso. – respondeu Pedro ainda escrevendo na agenda.

- Também achei estranho quando vi na TV – disse Du.

- Estranho é você me levar pros Estados Unidos ilegalmente e não abrir um portal para a casa do Tony Sabido. – resmungou Natália.

- Ainda não me recuperei completamente. – respondeu Du – Se quiser sacrificar umas virgens, ficarei agradecido.

- Ta mais fácil achar o coelhinho da páscoa que virgens. – disse Natália.

- É ali. – disse Pedro guardando as anotações no bolso interno da jaqueta e apontando com o indicador da mão esquerda.

- Aquilo parece um bordel. – disse Natália.

- Ta sabendo, hein! – brincou Du – Depois você me conta umas historinhas do teu passado obscuro.

- Palhaço. – riu Natália.

- Gata, seguinte, esse não é um lugar muito agradável pra uma mocinha. Fique no carro, ok? – disse Pedro batendo no ombro esquerdo de Natália.

- Ta querendo fazer programa e tem vergonha que eu veja? – brincou Natália – Relaxa, não tem nada aí que eu não visto ou ouvido falar.

- Isso vai ser engraçado. – disse Du estacionando o carro.

- O que pode ter de tão assustador num lugar chamado “Estranho Amor”? – perguntou Natália antes de entrarem na boate de Tony Sabido.

– Du, deixa a câmera do teu celular no jeito. A gente precisa filmar a cara dela. – disse Pedro tirando seu celular do bolso.

- Vai, abre a porta, guria! – disse Du com o celular em punho filmando o rosto de Natália.

Ao abrir a porta Natália cobriu a boca com a mão direta, tentando conter o riso e se recompor do susto que levara. Du e Pedro davam gargalhadas enquanto filmavam o constrangimento da jovem. A boate estava decorada como uma discoteca da década de 80, mas com vários sofás e pufes espalhados pelo salão, onde estavam dezenas de homens e mulheres nus.

- Mas que putaria! – gritou Natália para que pudesse ser ouvida.

- Muito legal, né não? – disse Du pegando um objeto fluorescente, cilíndrico e comprido que estava sobre uma mesa – Leva um brinquedinho desses de lembrança!

- Aquela mulher ta enfiando um trem desses naquele cara?! – disse Natália, espantada, apontando – Ai, meu Deus! Não me diz que aquilo é um, um...

- Um cachorro! – gritou Pedro.

- É demais pra mim! – gritou Natália – Vou esperar no carro!

- Se fosse você, ficaria aqui. – gritou Du – Enquanto procurava uma vaga, vi um pessoal descendo um cavalo no estacionamento.

- Cadê aquele sem-vergonha? – perguntou Pedro a Du.

Du tocou o chão por alguns segundos, apontou, e respondeu - No último sofá, embaixo da mulher vestida de gladiadora.

Pedro se aproximou do sofá e puxou o braço esquerdo do homem que estava embaixo da gladiadora.

- Pedrinho! – gritou Tony jogando a gladiadora para fora do sofá – Dudu! Vocês demoraram! Hum... trouxeram lanchinho, é? – brincou, medindo Natália dos pés a cabeça.

- Bem que to tentando, mas ela ta fazendo de difícil. – disse Pedro – Tem algum lugar onde podemos conversar?

- Vamos ao meu escritório. – disse Tony – Leopoldo – gritou para o barman – não deixe virar bagunça!

Tony levou-os ao escritório, localizado acima do bar, acendeu um cigarro e disse – Podem ficar a vontade. Mocinha, não precisa fazer careta, isso aí é iogurte. – jogou uma toalha para Natália – Forra aí e senta, não precisa ficar com nojo.

- Não tomaremos muito seu tempo, Tony. – disse Pedro.

- Não se preocupe. – disse Tony – O que estiver acontecendo lá embaixo pode esperar alguns minutos.

- Viemos saber se você ouviu algo sobre anjos querendo destruir demônios. – disse Pedro.

- E não é isso que eles sempre quiseram? – perguntou Tony com o cigarro no canto da boca e servindo uísque aos convidados.

- Dessa vez é diferente. – interrompeu Du – Os anjos estão se envolvendo diretamente.

- Eles não costumam fazer isso. – disse Tony – É mais fácil e menos perigoso usar humanos.

- Matamos um anjo semana passada e um milionário que estava envolvido com ele se matou na mesma noite. – disse Pedro.

- Presumo que esteja falando de Eniael e Sebastian Maddox, certo? – sorriu Tony apontando para Pedro – Fiquei sabendo disso no dia que aconteceu, há uns... quatro dias.

- O que sabe sobre Eniael? – perguntou Du.

- Ele nem era anjo direito. – disse Tony dando um gole no uísque – Ficou tanto tempo na Terra cedendo aos prazeres carnais e materiais que mal tinha poderes.

- Parece alguém que conheço. – riu Du virando sua dose, pegando a garrafa e colocando mais uma – Não ta confundindo a história dele com a sua?

- Se soubesse o tédio que é viver no paraíso nos daria razão. – respondeu Tony.

- Faço idéia. – disse Du servindo mais uma dose a Tony.

- Nunca concordei com o que os Anjos de Prata fizeram com os humanos. – disse Tony – Por isso, não vou deixá-los destruir a Terra.

- Então tem alguma coisa acontecendo? – perguntou Pedro.

- Já faz algum tempo, mas me lembro que Eniael veio aqui, ficou bêbado, e falou demais. – disse Tony – Não achei que fosse verdade o que dizia, mas agora que estão aqui, talvez tenha sido desleixado.

- E o que ele disse? – perguntou Pedro.

- Era uma conversa de bêbado, sem pé nem cabeça. Primeiro, falou algo sobre limpar a Terra, dar poderes aos humanos... algo do tipo. – Tony apagou o cigarro e acendeu outro – Depois, disse que se tornaria um Anjo de Prata... que era para eu guardar segredo... que estava liderando o Ômega.

- Ômega? Projeto Ômega? – disse Du – Já ouvi isso em algum lugar.

- Provavelmente. – disse Tony – É uma lenda sobre os anjos terem uma arma que desequilibraria a disputa pela Terra. Dizem que isso seria possível agora devido aos avanços científicos.

- Se Enieal era o líder, então esse projeto não vai vingar. – disse Natália – O Du pilou aquele anjo!

- É aí que acho que ele estava contando vantagem de bêbado. – disse Tony – O que corre na boca pequena é que o Ômega foi arquitetado por Miguel e que ele comandará um exército de anjos e humanos que destruirá todos os demônios. Quando digo demônios estou incluindo os vampiros. É que para nós, anjos, não há diferença.

- Então os humanos serão salvos pelos anjos? – perguntou Natália.

- Não. Só alguns poucos escolhidos. – respondeu Tony – A maioria também será exterminada.

- E Deus não vai fazer nada? – perguntou Natália.

- Deus não faz nada há muito tempo. – disse Du – Talvez devêssemos pensar em acordar o Anjo de Luz.

- Samael? – disse Tony – Desde a luta contra Miguel que ele está preso. Não será nada fácil chamá-lo.

- Samael, tipo, Lúcifer? – disse Natália meio assustada – Ele é do grupo dos malvados, não é?

- Ele era um anjo poderoso e ambicioso, mas não tenho certeza se é realmente esse monstro que dizem. – disse Tony – Entenda, criança, não importa quanto tenha perdido, ou quão suja tenha sido sua campanha, se vencer a guerra, você escreverá a história. Os vencedores sempre tratam de desmoralizar os vencidos e justificar a guerra como algo necessário e inevitável contra o mal. Com o desaparecimento de Deus, alguém precisava ficar no comando e Miguel, líder do exército celestial, logo se prontificou, mas Samael foi contra. Milhares, talvez milhões, de anjos foram destruídos nessa guerra. Por fim, Samael foi aprisionado no Inferno e seus poucos soldados restantes foram banidos do Paraíso. Os anjos que passaram a comandar o Paraíso e a Cidade de Prata impediram a vinda dos humanos à Terra durante um bom tempo, pois temiam que eles se aliassem aos seguidores de Samael que aqui viviam. Com a fuga dos humanos para a Terra, Miguel e seu aliado Gabriel, logo trataram de mostrar aos humanos quem mandava, e passaram a fazer aparições esporádicas, que resultaram na criação das maiores religiões. No começo, a imagem que criaram de Deus era de um ser impiedoso, às vezes até cruel, que o tempo todo vigiava e punia os humanos que não o adorassem acima de todas as coisas. Quando os humanos passaram a temer mais a si mesmos que a Deus, resolveram mudar, criando um ser poderoso, mas bondoso e misericordioso. Gabriel tem uma grande importância nisso tudo, pois sempre foi apresentado aos humanos como “o mensageiro de Deus”. Certa vez, indignado com umas ações dos líderes, fui aos portões da Cidade de Prata, esperei até que Gabriel aparecesse e disse a ele “já que você é o mensageiro, pergunte ao Todo Poderoso até quando essa aristocracia comandada por Miguel se manterá no poder”. Ele sequer olhou para mim, simplesmente me ignorou e entrou na Cidade de Prata. Fiquei putissimo! Quando estava indo cuidar dos meus deveres, um querubim veio até mim e disse que eu seria enviado a Terra para uma missão. Durante duzentos anos, esperei pelas ordens que nunca vieram e hoje, após sete séculos, entendo que fui banido. – pegou a garrafa de uísque, pôs uma dose grande no copo e tomou de uma vez. Seu rosto demonstrava que estava claramente infeliz com a forma e os motivos pelos quais fora banido do Paraíso. Colocou outra dose no copo, acendeu outro cigarro e, mudando do assunto que o incomodava, continuou - Mas acabo de pensar num detalhe... uma guerra com Miguel de um lado e ninguém como Samael para impedi-lo do outro será um massacre.

- Então, acordar Samael virou uma obrigação. – disse Du.

- Conhece alguém que possa ajudar? – perguntou Pedro a Tony.

- Não me chamam de Tony Sabido por ser bom de matemática. – respondeu Tony sorrindo – Vão para o aeroporto de Guarulhos, farei umas pesquisas e ligo assim que tiver respostas.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O FIM DA TRÉGUA

NOVA IORQUE – Edifício Maddox - 17:29

- Até quando vamos ficar olhando pra esse prédio? – perguntou Natália.

- Ele ainda não chegou. – respondeu Du.

- Mas faz três dias que estamos aqui. Já pensou que o Pedro pode estar morto?

- Maddox está aí, esperando o “pacote”.

- Durante a noite você fica vigiando-o, mas, agora, você não pode fazer nada.

- Eu não posso fazer tudo, mas não quer dizer que não posso fazer nada. Quando ele chegar, eu saberei.

- E o quê faremos?

- Eu vou entrar pela porta da frente, você vai fazer compras.

- Não vou te deixar sozinho nessa.

- E vai fazer o que? Dar bolsadas no anjo?

- Você pode me arrumar uma arma.

- Eu posso te deixar no inferno também, quer?

- Ignorante.

- Olha, como não sei onde estaria segura te trouxe comigo, mas você só vai aqui.

- E se der errado?

- Aí você terá que se virar pra voltar pro Brasil.

- Deixa seus cartões de crédito comigo então.

- Nem pensar. Apesar das probabilidades, não quero morrer hoje.

- Pela primeira vez você está sério, concentrado...

- Acho que tenho motivos, não? Sabe o que é engraçado nisso tudo? Há quase 15 anos, Pedro pulou da cobertura desse mesmo prédio por que não queria matar a pessoa que hoje está com a arma na cabeça dele.

- Por isso que eu digo “nunca perca a chance de matar alguém”.

- Ta vendo aquela van entrando no estacionamento? É ele.

- Tem certeza?

- Dessa vez sim.

- Boa sorte. Estarei esperando no hotel.

- Pede uma pizza pra mim.

Du entrou no Edifício Maddox, um prédio comercial onde, nos últimos três andares, é a residência de Sebastian Maddox, herdeiro de Maurice. Sentou-se num dos sofás do hall de entrada, e pegou uma revista, como se estivesse esperando alguém. Aguardou alguns minutos, tempo que achou necessário para que a van fosse descarregada. Atravessou o hall, entrou no primeiro elevador que encontrou e apertou o número 35. Não precisou digitar senha, o que não lhe causou estranheza, pois, perto do que esperava para aquele dia, isso era apenas mais um detalhe. O elevador chegou ao andar desejado e a porta se abriu. Caminhou até uma porta dupla, abriu-a sem pensar duas vezes. Deparou-se com quatro asiáticos fortes e armados, um jovem, loiro de olhos verdes e um homem que não conhecera pessoalmente, mas viu enquanto pesquisava o paradeiro de Pedro: Giovane Santana.

- Pensamos que tivesse fugido, Du. – disse Santana.

- E por quê pensaram isso? – perguntou Du.

- Ora, qualquer pessoa com um mínimo de juízo faria isso. Vá embora, ainda dá tempo.

- Onde está Pedro?

- No andar de cima. Gostaria de se despedir?

- Me acompanharia?

- Claro. – disse Santana sorrindo.

Seguiram até o que parecia ser um grande escritório, onde havia uma escada para o andar superior. Du foi na frente, seguido por Santana, o jovem loiro e os asiáticos. No 36º andar, Du viu Pedro, cheio de cortes pelo corpo, preso à parede pelo que pareciam grandes pregos de metal, que atravessavam seus tornozelos, joelhos, cotovelos e pulsos. Uma lança estava cravada no lado direito do peito de Pedro. Em frente a Pedro, estava um homem, que aparentava ter uns quarenta e poucos anos, segurando uma faca. Apesar do tempo, Du reconheceu o homem como sendo Sebastian Maddox.

- Pensei que não viesse mais. – disse Pedro.

- Que visão do inferno! Poderiam ao menos ter te colocado umas roupas. – disse Du.

- E aí, já almoçou? – perguntou Pedro.

- Comi um lanche agora a pouco. Tu vai ficar nessa até que hora?

- Sei lá. Pergunta pro anfitrião.

- Sebastian Maddox? – disse Du - Quanto tempo! Não tinha te reconhecido, rapaz! Tu não se lembra de mim porque nunca fomos apresentados.

- Sem palhaçadas. – disse Maddox olhando friamente para Du – Vá embora.

- Arrogante ele, não? – disse Du a Pedro.

- E como. Ele ta achando que os quatro “china” dele são suficientes. – respondeu Pedro.

- Cara, chinês só luta bem em filme. – disse Du – A vantagem é que, como tudo que vem da China, eles são baratos, mas a qualidade é bem inferior. Pelo preço de um ex-militar russo você contrata quantos chineses?

- Senhor, eu posso dar um jeito nesse verme. – disse o jovem loiro a Maddox.

- E de onde tiraram essa figura? – perguntou Du rindo enquanto analisava o jovem – Cara, tu é estilista ou assassino?

- Ele é Eniael, o anjo que você deve ter ouvido falar. – disse Pedro.

- Mostra tua verdadeira forma então porque to louco pra fazer uma canja. – disse Du ao anjo.

- Não quero bagunça na minha casa. – disse Maddox a Eniael – Leve-o até a garagem. Evite problemas no caminho, mas, se ele oferecer resistência, mate-o antes.

Dois chineses se posicionaram de cada lado de Du e Eniael seguiu-os a alguns passos atrás. Desceram as escadas que levam ao 35º andar. Ao passarem pela porta dupla, antes de entrarem no elevador, Du olhou para o anjo que o seguia e depois para o guarda-costas mais próximo do seu lado direito. Du acertou uma cotovelada no nariz do guarda-costas e tentou pegar sua arma, mas foi detido por Eniael, que segurou seu punho direito. Du acertou vários socos no rosto do anjo, mas era como bater em uma parede. Com a mão direta presa e a esquerda quebrada, Du não conseguiu evitar o ataque dos chineses. Deitado no chão, ainda com a mão segurada pelo anjo, sentiu suas costelas partirem e engoliu alguns dentes antes de ter o maxilar quebrado. Eniael pisou nas costas de Du, torceu seu braço direto e começou a puxá-lo até que se deslocou e, por fim, separou-se do resto do corpo. Como não conseguia gritar, Du urrava e se debatia.

Eniael apoiou o joelho direito sobre o ombro direito de Du, segurou a cabeça do demônio e começou a pulá-la. Du segurou o braço esquerdo do anjo e pronunciou algo indecifrável. Eniael desapareceu. As paredes da ante-sala se cobriram de sombras. Fios de arame farpado se enrolaram nos guarda-costas, que foram puxado para o centro do cômodo, presos de costas um para o outro. Du se levantou, segurando com a mão esquerda a mandíbula que estava sendo regenerada. Rasgou a garganta de um dos chineses e começou a tomar seu sangue. Sombras surgiram onde no seu ombro direito e foram tomando o formato de seu braço. Regenerado o braço direito, mordeu o pescoço de outro guarda-costas, sugando seu sangue mais rapidamente que o primeiro. Repetiu o processo no terceiro guarda-costas. Não podia perder tempo, pois sabia que o anjo logo estaria de volta. Antes de tomar o sangue do último guarda-costas, uma forte luz branca surgiu no teto da sala, de onde saiu Eniael.

- Pensou que podia me prender no inferno? – perguntou o anjo – Eu posso entrar e sair de lá quantas vezes quiser.

- Sei muito bem disso. – respondeu Du largando o terceiro guarda-costas – Só que você não se atentou a um detalhe.

- E qual seria?

- Meus poderes estão aumentando e os seus diminuindo, o que significa que já anoiteceu.

- Mas eu ainda tenho forças para acabar com você.

- Te mandei pro inferno para ter tempo de me regenerar. Além disso, você gastou seus poderes para sair de lá.

Eniael, com um soco, cravou sua mão direita no estômago do demônio, que contra atacou-o rapidamente, quebrando o braço do anjo.

- Minha vez. – disse Du sorrindo ao anjo.

No 36º andar, Pedro era fatiado por Maddox. Sem se incomodar com os gritos de Pedro, o milionário arrancava pedaços do vampiro e, sem dizer qualquer palavra, continuava a tortura, que incluía a utilização de ácidos nos ferimentos. Maddox sabia que não importava quanto o castigasse, Pedro não morreria. Sentia prazer no que estava fazendo e planejava fazê-lo por anos.

- Você não acredita em mim, não é? – disse Pedro – Não importa a verdade, mas sim o que te agrada.

- O que me agrada? – disse Maddox enquanto pegava uma faca de serra – Você e aquela vadia roubaram meu pai e depois o mataram.

- Anastácia? Eu a conheci no dia que fui embora! Nem sabia que ela e seu pai tinham um caso!

- Passei quase uma década brincando com ela como estou com você. Tem noção do que é passar por algo assim todas as noites?

- E o que aconteceu com ela?

- Ela implorava para morrer e eu disse que a mataria se ligasse para você falando do trabalho. Estava tão fraca que queimou instantaneamente ao ver o Sol.

- Por que você tem a proteção de um anjo?

- Eniael é apenas um dos que me apóiam.

- Apóiam no que? Você me queria, então acabou!

- Acha mesmo que isso termina aqui? Você e Du são apenas os primeiros. Logo extinguiremos todos, sem exceção.

- Se isso significa que só matará algum demônio depois de me matar, então acho que tu não vai matar ninguém. – disse Du saindo da escada de acesso, arrastando o anjo pelo tornozelo esquerdo.

Eniael teve a asa direta decepada e a esquerda, assim como suas pernas e braços, estava quebrada em várias partes.

Du estendeu a mão esquerda em direção a Pedro e os objetos que atravessavam seu corpo foram arrancados. Maddox segurou firmemente a faca que estava em suas mãos, mas sabia que não era capaz de enfrentar o demônio. Du arrastou o anjo até Pedro.

- Acho que você ta precisando de um lanchinho. – disse Du segurando o anjo pelos cabelos – Esse ta há muito tempo na terra, corrompido demais, mas ainda serve pra forrar o bucho.

Pedro mordeu o pescoço de Eniael e sugou seu sangue até que o corpo do anjo começou a se transformar em cinzas. Levantou-se, regenerou as feridas e voltou-se para Maddox.

- Seu avô me ajudou quando vim da Inglaterra. – disse Pedro – Ele nunca me julgou ou se importou com o fato de eu ser um vampiro, a única coisa ele que me pediu era que protegesse seu pai e, posteriormente, você. Esse é único motivo para eu te deixar vivo. Jamais se esqueça de uma coisa: nossa trégua termina aqui. Se você me procurar ou se eu suspeitar que está preparando algo pra mim, voltarei a essa cidade e matarei todos seus descendentes antes de pegá-lo.

- Os anjos acabarão com você. – disse Maddox – Acha que pode fazer o que fez e sair impune?

- Eles sempre estiveram atrás de mim, mas essa não é a questão. – respondeu Pedro - Se continuar se envolvendo com eles, bem, você já sabe como terminará. Adeus Maddox.

Sombras cobriram Du e Pedro e eles desapareceram. Maddox caminhou até a janela, apertou um botão no controle remoto que a abriu. Ficou observando a cidade, pensando que, talvez, Pedro não tivesse mesmo matado seu pai. Não sabia se estava pensando isso por ser verdade ou porque estava com medo da ameaça do vampiro. Apoiou as mãos na janela, abaixou a cabeça e começou a chorar. Sentiu, então, uma mão tocar seu ombro direito. Olhou para o lado direito e tremeu ao ver um anjo que emanava uma forte luz branca, muito mais poderoso que Eniael.

- Te avisei para não colocar sua vingança em primeiro plano. – disse o anjo – As ordens eram claras, você devia matar o vampiro.

- Desculpe, senhor, eu falhei. – disse Maddox – Não acontecerá novamente.

- Certamente não acontecerá. – disse o anjo arremessando Maddox pela janela.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

TUDO ISSO É POR SUA CAUSA

Boate Tibo’s Club – Londrina – PR – 03:39

- Será que eles estão no camarote? – perguntou Du.

- Provavelmente foram embora. – respondeu Pedro – Mesmo assim, combinamos e o mínimo que podemos fazer é ver se ainda estão esperando. Se não estiverem, já sabe o que dizer depois, não?

- “Nós atrasamos uns 20 minutos por causa do trânsito e, quando chegados, vocês não estavam lá”. Aí os chamamos de irresponsáveis e imaturos. Nunca falha.

- Eu não queria eles por perto quando encontrássemos o Bondoso. Sabe como é, eles ficaram abalados com o que viram no aparamento, imagina se vissem o que fizemos.

Pedro abriu a porta e foi entrando no camarote quando se deparou com um casal aos beijos.

- Acho que foram embora. – disse Pedro voltando-se para a porta - Vamos procurar nosso rumo também. Amanhã será outra noite daquelas.

- Parou, parou! – disse Du caminhando até o casal – Você não reparou quem ta se pegando aqui? – começou a rir.

- Puta merda! – gritou Pedro fechando a porta do camarote – A gente se matando pra conseguir alguma informação e vocês aqui, só na sacanagem! Irresponsáveis!

- A culpa foi minha. – disse Roberto – Ela não resistiu aos meus encantos.

- Vocês estão atrasados mais de sete horas. – disse Natália arrumando o vestido – Queriam que e a gente ficasse rezando?

- E cadê a ética profissional? – perguntou Pedro.

- Não precisa ficar com ciúmes. – respondeu Roberto – Além do mais, você sumiu e mandou ficarmos juntos.

- Então, na próxima eu te mando rodar bolsinha. – disse Pedro sentando-se num dos sofás.

- Mas e aí, descobriram alguma coisa sobre o Pai Bondoso? – perguntou Natália a Pedro.

- Ele era um infanticida de merda. Mas agora está de férias, num lugar quente e cheio de amiguinhos. – disse Pedro – Preciso diminuir o estresse, me dá um cigarro.

- Mas ele disse por que matou o menino? – perguntou Natália acendendo um cigarro e entregando-o a Pedro.

- Ao que tudo indica, ele foi contratado para o serviço. Nem sequer sabia quem éramos nós.

- E, com certeza, você tem um nome. – disse Roberto.

- Você ta ficando mais esperto. – disse Du – Andar comigo ta te fazendo bem, né?

- Invejoso. – resmungou Roberto e deu um gole no uísque – Imagino o que vocês fizeram pra arrancar essas informações, se bem que o cara merecia o pior.

- O estranho nisso tudo é que, ao que parece, o nome que consegui tem contato com um anjo. – disse Pedro – Algum de vocês tem treta com anjos ou aprontou alguma coisa absurdamente foda?

- Acho que o único que tem treta direta com anjo aqui é você, Pedro – disse Du, pegando o copo de Roberto sobre a mesa e dando um gole – Essa porcaria ta com mais água que o Amazonas.

- Eles estão atrás de alguma coisa e eu não tenho a menor idéia do que seja. – disse Pedro – Sei que alguns anjos não vão com a minha cara, mas isso é rixa antiga. Bem, se estiver errado, e o problema for só comigo, resolverei amanhã mesmo.

- Falou aí, “Ceifador de Anjos”! – brincou Roberto.

- Matar um anjo não é tão difícil. – disse Pedro a Roberto – Tinha mais ou menos a sua idade quando matei o primeiro. O segredo é enfrentá-los à noite. Assim como nós, amaldiçoados, somos limitados pelo Sol, os anjos enfraquecem durante a noite. É isso que mantém o equilíbrio e impede que um dos lados domine facilmente a Terra.

- Então, vão quebrar o pau com esse anjo agora mesmo! – se animou Roberto.

- Daqui a pouco amanhecerá. – disse Du – Os anjos enfraquecem, mas não ficam totalmente vulneráveis à noite. Por isso, é melhor procurá-lo no começo da noite, pois não sabemos quanto tempo durará a luta.

- Quer saber, eu vou embora aproveitar minha suíte e, amanhã, quando terminarem o serviço, me contem como foi. – disse Roberto se levantando do sofá.

- Você não vai ajudar? – perguntou Natália.

- Ele ta certo. – disse Pedro – E se você for esperta, fará o mesmo. Não podemos garantir a segurança de vocês, até porque não sabemos o que nos espera.

- Mas eu gostaria de ajudar. – disse Natália – Não tenho medo de morrer e...

- E alguma vez você esteve prestes a morrer? – interrompeu Du – Morrer é fácil. Você deveria pensar em quão doloroso isso pode ser. Além do mais, estamos lidando com um anjo e ele pode te matar, arrastá-la para a luz e mandá-la pro inferno.

- Não me entenda mal, mas você atrapalharia mais do que ajudaria. – disse Pedro.

Natália retirou uma caneta e um pedaço do papel da bolsa. – Esse é número do meu celular e do hotel em que estou. Me liguem pra contar como foram ou se mudarem de idéia. Ou melhor, anotem os telefones de vocês, sei que ficarei preocupada se não tiver notícias. Amanhã eu ligo pra ver como estão.

- Pede o Orkut deles também! – disse Roberto impacientemente – Vamos, baby, preciso de uma carona.

- Por que não enfia as chaves do carro no pescoço dele? – perguntou Du a Natália.

- Acabei de me perguntar a mesma coisa. – respondeu a morena – Até amanhã e boa sorte.

Hotel Esplendor – Londrina-PR – 3ª noite, 20:06

- Já vou! – gritou Du a alguém que batia incessantemente na porta – Derruba que é mais rápido, porra!

- Por que não demorou mais? – perguntou Pedro ao amigo.

- Boa noite pra você também.

- Cara, deu merda! Merda total!

- Como assim?

- Acabei de receber uma ligação do celular da Natália. Pegaram ela e o Roberto. Santana quer nos encontrar.

- Não sei porque você ta preocupado, a gente ia atrás dele de todo jeito.

- Sim, mas ele nos procurou e disse pra irmos onde funcionava o LondriBingo, no centro da cidade.

- Mais fácil ainda.

- Você não ta vendo nada de mais nisso tudo? Eu e você iríamos atrás dele hoje. Natália e Roberto sabiam também e foram pegos. O que não entendo é como ele sabia.

- Ele foi mais esperto que você e está um passo a frente, só isso.

- Quer saber, eu vou pegar esse Zé Ruela de calça curta! Abre um portão pro meio desse bingo!

- Só um segundo, Miss Daisy. – Du fez fechou os olhos, se concentrou e, após alguns segundos, fez um sinal negativo com a cabeça – Não vai rolar.

- Como assim? Ta de sacanagem?

- Não dá. Deve ter um círculo de proteção no local ou alguma coisa que ta me bloqueando. Não posso entrar lá.

- Vamos arrumar um carro então

- Será que eu virei o paranóico da dupla? Você não pode entrar lá! Pra ser mais direto só se escreveram “cilada” na entrada do bingo!

- Minha morena ta encrencada, Du.

- Tua morena? Se bem me lembro, era com outro que ela tava trombando a língua ontem.

- Ela ainda não percebeu meu potencial, só isso.

- Deixa de besteira e vamos montar um plano antes de sair chutando o balde de merda.

- Não dá tempo. Tenho que estar lá às 20:30.

- Dentro do bingo eu não posso te deixar, mas em frente sim.

- Vamo nessa.

LondriBingo, 20:25

- Pedro, é última vez que aviso, desista! Têm seguranças na entrada, três carros com motoristas a postos e eu não posso te ajudar!

- Esse cara me desafiou, Du.

- E como você é superior vai deixar pra lá, certo? O que tem de mais ele estar atrás de você? Daqui um século ele estará morto, você não.

- Eu sei que você vai dar um jeito de me ajudar.

- Tem algo forte aí, Pedro.

- Então, adeus velho amigo.

Pedro sorriu e, sem dizer mais nada, caminhou sozinho até a entrada do bingo, onde foi revistado pelos dois seguranças que guardavam a porta. Um dos seguranças o acompanhou até uma escadaria nos fundos do estabelecimento, após o antigo salão de jogos. – Daqui pra frente você vai sozinho. – disse o segurança. Pedro, então, se deu conta que, há séculos, sempre teve a companhia de Du, mas dessa vez estava sozinho e não tinha mais volta. Desceu as escadas e abriu a porta que havia no final, entrando, em seguida, num cômodo subterrâneo tão grande quanto o salão de jogos. Natália estava amarrada a uma cadeira no centro do salão. Contou seis capangas espalhados – quatro portando metralhadoras e dois com rifles. Roberto estava do lado esquerdo de Natália e, do lado direito, estava um anjo, com grandes asas, trajando uma túnica branca e um homem de uns trinta e poucos anos, vestido de modo informal, mas ostentando roupas e relógio de marcas caras.

- Deixa eu ver se acerto: Giovane Santana, Eniael, Natália e o traidor – disse Pedro apontando para o grupo no centro do salão, da direita pra esquerda.

- Exatamente. – disse Santana – E você deve ser Pedro.

- Desconfiei, depois de falar com o Bondoso, que alguém do grupo estava sujo. – disse Pedro olhando para Roberto – Não ligo pra quanto te pagaram para me entregar, mas não entendo porque colocou a garota no meio disso.

- Ela chegou a mesma conclusão no caminho de volta para o hotel. – disse Roberto – Não poderia deixá-la contar a vocês. A propósito, cadê o seu amigo?

- Ta te esperando lá fora, vai lá. – respondeu Pedro – Alguém poderia me dizer o por que de tudo isso?

- Sem problemas, Pedro. – disse Santana – Tudo isso é por sua causa. Meu trabalho é ajudar pessoas, sabe, auxiliar em problemas que elas têm dificuldades. Um milionário norte-americano estava oferecendo uma boa grana para quem lhe entregasse, vivo ou morto, o vampiro que matou seu pai há uns dez anos atrás.

- Quinze. – corrigiu Pedro – Se está falando de Maurice Maddox, faz quinze anos em março.

- Por que acha que é dele que estou falando?

- Porque, recentemente, comentei sobre esse dia com Du. Anastácia, uma prostituta de luxo de Nova Iorque, me ligou indicando esse serviço. Nós a conhecemos no aeroporto JFK quando fugimos para o Brasil. Eu fui amigo do pai de Maurice e o conhecia desde que usava fraldas. Era... um grande amigo.

- Um grande amigo? Você o matou! – disse Roberto rindo.

- Eu não o matei. Ele me disse que tinha se apaixonado por uma vampira, que queria largar a família e ficar com ela. Reclamou que estava ficando velho e ela não queria transformá-lo, então, me ofereceu dinheiro para poder viver com a amada. Eu precisava de dinheiro e ele do meu sangue, mas ajudei porque era meu amigo. O problema é que o filho dele apareceu de repente, viu o pai no chão e começou a atirar em mim, daí chegaram os seguranças e coisa ficou feia, tive que pular da janela do 35º andar. Eu não podia matar o filho do meu amigo.

- Então, confessa que não cumpriu sua parte? – disse Santana.

- Eu cumpri! Quando o rapaz chegou eu já tinha dado meu sangue para Maurice, estava tudo certo. Quando se transforma em vampiro, dessa forma, leva um tempo para se mover, o corpo dói, a cabeça também... ouvi de alguns vampiros que só conseguiram se mexer depois de dias.

- Então, o que deu errado? – perguntou Santana.

- Os médicos, a família, todos tinham certeza que Maurice estava morto. Se tivessem apenas enterrado-o, eu o ajudaria a sair da cova na noite seguinte, mas resolveram fazer um velório... coisa de grã-fino, ao ar livre... à tarde... Os jornais noticiaram como combustão humana espontânea.

- E, assim, tudo ficou mais claro. – disse Santana – Mas isso não importa. Acho que o filho de Maddox te perdoará.

- E qual é a sua? – perguntou Pedro ao anjo.

- Não dirija a palavra a mim, subumano. – respondeu o anjo.

- Ou você vai fazer o quê? Dar uma volta comigo sobre a cidade?

- Posso arrancar sua cabeça agora mesmo, imundo. – disse o anjo se aproximando de Pedro.

- Então, prepara pra sujar as patinhas.

- Eniael, chega! – gritou Santana.

- Por que o passarinho te obedece? – perguntou Pedro a Santana.

- Ele só quer a sua chave e eu preciso de você vivo, é esse nosso acordo. – respondeu Santana.

- E pra quê?

- Essa chave era de um de meus irmãos e você a roubou quando o assassinou. – disse Eniael.

- Esse eu me lembro como se fosse ontem! – disse Pedro dando uma gargalhada em seguida - Tava quase amanhecendo quando terminei de arrancar as penas daquela franga! – gargalhou novamente.

Eniael agarrou o pescoço de Pedro com a mão esquerda e o ergueu do chão.

- Vai, frangão, me mata! – disse Pedro encarando o anjo.

- Eniael, tenha calma. – disse calmamente Santana - Se matá-lo, nunca saberá onde está a chave.

O anjo soltou o vampiro, mas continuou próximo, prestes a atacá-lo novamente.

- Você tem acordos com todo mundo. – disse Pedro a Santana – Posso fazer uma proposta?

Santana de Pedro e disse em seguida – Acho difícil me convencer de algo, mas diga.

- Eu digo onde está a chave, mas você solta a garota e me entrega esse traidor. – disse Pedro apontando para Roberto.

Santana estendeu a mão direita a Pedro, cumprimentou-o, sorriu, e disse – Fechado.

Pedro abriu um longo sorriso para Roberto, que correu para trás de uma pilastra.

- Não! Espera! – gritou Roberto vendo que Pedro se aproximava dele – Eu não fiz nada! Não machuquei ninguém! Não!

Pedro saltou sobre Roberto, que bateu as costas no chão. O vampiro juntou as mãos e bateu violentamente contra o peito do traidor, rasgou a pele e abriu a caixa torácica.

- Não vai comer o coração dele ou tomar o sangue? – perguntou Santana.

- Não como porcaria. – respondeu o vampiro observando o coração de Roberto diminuir os batimentos até parar. Olhou para Natália e viu que um dos capangas a desamarrava. Tirou o celular no bolso esquerdo da calça e ligou para Du. – A garota ta saindo, leve-a pra algum lugar bem longe daqui. – desligou o telefone e o colocou novamente no bolso.

- Agora, me diga onde está a chave. – disse Santana.

- Está enterrada a dez passos dos restos da grande árvore dos Campos da Aniquilação. – respondeu Pedro olhando para o anjo, contendo-se para não gargalhar novamente.

- Campos da Aniquilação? – perguntou Santana – Onde fica isso?

- É um dos campos do inferno. – respondeu Eniael.

- E aí, quem vai lá buscar? – disse Pedro não contendo a risada.

O anjo correu e desferiu um soco na face esquerda de Pedro, arremessando-o contra a parede. – Agora eu não tenho motivos para deixá-lo vivo, subumano! – gritou o anjo, dando mais um golpe, mas dessa vez Pedro se esquivou e lhe acertou uma joelhada no estomago, que o fez cambalear para trás. Pedro se preparou para atacá-lo novamente quando começou a ser atingido pelos disparos dos seguranças.

- Não economizem balas! – gritou Santana – Ele precisa perder sangue, por isso, atirem a vontade!

- Ordene que parem! – gritou o anjo a Santana em meio ao barulho ensurdecedor dos tiros – Eu tenho que matá-lo!

- Não, Eniael! – gritou Santana – Peça ao chefe, se ele deixar, você mata o vampiro.

Quando acabaram as balas, o corpo de Pedro estava despedaçado em meio a uma poça de sangue e restos de roupas.

- Muito bem, cavalheiros! – gritou Santana aos capangas – Agora, recolham o que tiver sobrado de carne e osso e coloquem naquele balde. Entregaremos a encomenda ainda hoje.