domingo, 7 de março de 2010

OSTROV PREOBRAZHENIYA

Mark Cosgrowe, presidente da ONG Vida Melhor, anunciou esta manhã, em Genebra, que pretende investir mais de cinqüenta bilhões de dólares em países subdesenvolvidos. O dinheiro está disponível para aplicação imediata e, num prazo de dez anos, pode superar em dez vezes esse valor. Segundo Cosgrowe, os investimentos seriam em obras de infra-estrutura, como estradas, portos e produção de energia e, num segundo momento, na criação de universidades e centros de pesquisa, porém, o país que receber ajuda da ONG deve se adequar às suas normas, sendo necessárias mudanças nas leis e constituições. Líderes africanos e asiáticos viram com desconfiança as promessas de Cosgrowe, mas se disseram dispostos a negociar. O presidente da ONG afirmou que o dinheiro veio de doações de empresários e artistas conscientes de sua importância para a criação de um mundo melhor. “Não estou aqui para construir mansões para políticos corruptos. Respeitaremos a soberania das nações ajudadas, mas cada centavo será fiscalizado pela Vida Melhor. Objetivamos uma melhor qualidade de vida para os cidadãos dos países mais pobres e não a criação de novas potências econômicas” – afirmou Cosgrowe. Se essa será uma ajuda benéfica às nações subdesenvolvidas ou aos bilionários capitalistas, só o tempo dirá...

- Desliga essa TV. – pediu Pedro – Todo canal está falando a mesma coisa. Acho que já ouvi o nome desse cara umas vinte vezes.

- Não te preocupa o anúncio da Vida Melhor menos de 48 horas após sermos atacados? – perguntou Natália.

- Tiveram que acelerar os planos, oras. – respondeu Pedro.

- Du e Pacchi estão demorando...

- Eles foram ver se o contato de Tony ainda está vivo. Devíamos ter ido junto.

- É, eu sei. Só que você não conseguia andar, esqueceu?

- Aquela arma era do capeta!

- Sei não... pra mim você tava fazendo drama.

- Me passa o telefone, cansei de ficar esperando notícias daqueles dois.

- Virei sua empregada agora?

- Ta bom, eu pego o telefone, inferno!

- Apesar de você não acreditar, acho que fazer alguma coisa por conta própria não vai te matar.

- Fica quieta que ta chamando. Hey, Pacchi?... Onde você está?... E você não vai falar onde é?... Cadê o Du?... Hein?!... Sério?!... Puta merda!... Vai demorar?... Ok, vamos esperar...

- E aí?

- O apartamento do contato estava vazio, mas tinha um bilhete colado na parede e o Du foi ver do que se tratava.

- Ele nunca pensa que pode ser uma cilada?

- Sempre é uma cilada.

- E onde Pacchi está?

- Num de seus esconderijos secretos que ele não pode dizer onde fica senão deixa de ser secreto.

- E o que faremos?

- Esperamos.

- Esperamos porque precisamos esperar ou porque está pra amanhecer e você vai dormir o dia todo?

- Hum... pelos dois motivos.

Pouco antes das oito da manhã, Pedro dormiu. Natália, preocupada com Du, ficou assistindo TV, pois tinha medo de sair e não ver quando Pacchi voltasse. Às 22:15, Pacchi, cansado por ter subido os três andares pelas escadas, entrou no apartamento carregando uma maleta.

- Fudeu! – gritou Pacchi – Fudeu geral!

- Mas que porra! – disse Pedro chegando à sala escovando os dentes – Me dá um tiro ao invés de aparecer desse jeito!

- Pegaram o Du! – disse Pacchi sentando-se no sofá e retirando da maleta um notebook – Eu avisei aquele filho duma puta!

- Como assim? – perguntou Natália.

- A gente só achou o que queriam que achássemos. – disse Pacchi enquanto abria vários arquivos – O contato que vocês tinham provavelmente está morto. O apartamento estava vazio, só achamos um bilhete com o nome “Ostrov Preobrazheniya”, uma ilha no Mar de Laptev. Du disse que ia lá dar uma olhada enquanto eu tentava achar alguma coisa sobre a ilha. Fiz com que ele levasse um telefone via satélite e um pen drive com um programinha que criei para que, caso encontrasse um computador, eu pudesse retirar as informações à distância... Qualquer computador num lugar isolado desses tem que estar ligado a uma rede... Não acho que alguém gastaria combustível pra ir lá buscar informações diariamente... A única coisa que descobri sobre Preobrazheniya é que, há três anos, o governo da Federação Russa reativou uma estação de pesquisa na ilha. Não existem imagens recentes da ilha ou da nova estação. Du me ligou dizendo que não existia estação nova, apenas uma velha casa de madeira e uma grande antena... entrou na casa e encontrou um elevador... eu falei pra ele não descer senão perderia o sinal, que era pra voltar e elaborarmos um plano, mas ele não me escutou! Pouco tempo depois, recebi um sinal no meu programinha... os computadores serviam pra enviar imagens das câmeras de segurança...

Pacchi virou o monitor do computador para Natália e Pedro. As imagens mostravam Du caminhando por uma grande sala repleta de mesas com computadores e um telão desligado na parede oposta à porta. Pacchi apontou para uma grande caixa próxima ao telão.

- Tem uma bomba aí. – disse Pacchi.

- E como você sabe? – perguntou Natália.

- Você vai ver. – respondeu Pacchi.

Luzes vermelhas se acenderam na sala. Du correu até o elevador e viu que estava trancado. Socou a porta, que amassou, mas não cedeu. Tentou abrir um portal que se limitou a um pequeno círculo preto na porta do elevador. Todas as câmeras mostraram um clarão e a transmissão foi encerrada.

- Não fode... – disse Pedro, sentindo suas costas e mãos gelarem e suas pernas tremerem dormentes.

- Ele morreu... – disse Natália se agarrando ao sofá sem conter o choro.

- Tentei achar o destino do sinal... – disse Pacchi fechando e guardando o computador - mas só cheguei até Moscou... não foi possível precisar a localização. Pedro, eu também quero vingança, mas se desesperar será pior. Temos que montar um plano e conseguir reforços pra só depois pensar num ataque.

- Você cuida disso. – disse Pedro a Pacchi - Entrarei em contato pra passar as informações que conseguir.

- Você não sabe nem por onde começar! – gritou Pacchi.

- Claro que sei. – disse Pedro – Onde Mark Cosgrowe estiver é por onde começarei.

- E ela vai com você? – disse Pacchi apontando pra Natália.

- Não terei tempo pra cuidar de viúva. – respondeu Pedro - Esconda-a, você é bom nisso.

Caminhando pelas ruas de Madri, Pedro se deu conta de que, pela primeira vez, em séculos, sentiu medo. Pela primeira vez, em séculos, enfrentaria um inimigo capaz de destruí-lo. Pela primeira vez, em séculos, estava sozinho.