Madri – Espanha, 22:55
- Acho que o Du ta perdido. – disse Natália.
- Você acha? Eu tenho certeza! – resmungou Pedro.
- Por que vocês simplesmente não curtem o passeio? – perguntou Du.
- Pois é, vamos curtir um super passeio pela periferia de Madri enquanto o mundo está à beira do Armageddon, genial. – disse Natália – Tava pensando até que seria uma boa idéia irmos a um jogo de futebol.
- Vai procurar marido lá? – brincou Pedro, fazendo Du rir.
- Agora entendo porque você é um velho solteiro. – respondeu Natália.
- Primeiro, precisamos recolher informações. – disse Du – Duvido que as obteremos durante a execução de algum plano. Além disso, precisamos justamente de um plano e para elaborá-lo e evitar surpresas temos que fazer o dever de casa antes. O contato de Tony está aqui, mas tem outra pessoa que gostaria de ver antes.
- Poucas pessoas na Terra sabem onde Samael está e como trazê-lo, mas já temos um ponto de partida para isso. – disse Pedro – O que me preocupa é não saber muito sobre o Projeto Ômega.
- Mas vocês têm alguma idéia do que pode ser o Ômega? – perguntou Natália.
- Com certeza, é algo ligado a tecnologias recentes. – respondeu Du – Agora, quais tecnologias... não tenho noção. Pedi a Pacchi que analisasse os investimentos de Maddox, o único que sabemos que estava ligado ao projeto.
- Pensei que Pacchi estivesse preso. – disse Pedro – Ele parou de invadir e desfalcar bancos e empresas?
- Que nada, continua se enrolando até o pescoço. – disse Du – Só que agora, além de encobrir muito bem seus passos a ponto de ser quase impossível provar seus crimes, foi contratado por uma agência internacional para impedir crimes na internet.
- Estão deixando o lobo dormir no galinheiro. – riu Pedro – Ele não disse qual agência o contratou?
- Claro que não. – respondeu Du – Ele tá se achando o agente secreto, disse até que tem porte de arma.
- O mundo está mesmo acabando! – gargalhou Pedro.
- Se o GPS estiver certo, é aqui. – disse Du estacionando em frente a um galpão aparentemente abandonado. Buzinou duas vezes. De uma janela próxima ao telhado alguém piscou uma lanterna três vezes. Du piscou os faróis quatro vezes e apagou as luzes. Os portões do galpão se abriram para a entrada do carro, sendo fechados em seguida.
- É impressão minha ou isso foi um sinal secreto? – perguntou Natália.
- Exigências de Pacchi. – disse Du.
Pacchi era um homem magro, pálido, que usava jeans e camiseta do Barcelona. Aparentava ser um pouco mais jovem que seus verdadeiros 25 anos. Tinha olheiras que denunciavam as várias horas que estava sem dormir.
- Você está parecendo um zumbi, Pacchi. – disse Pedro ao cumprimentar o amigo.
- Dormir é uma perda de tempo necessária. – respondeu Pacchi – Acho que perdi umas quatro horas dormindo nas últimas setenta e duas.
- Se fez o que pedi, não precisa arrumar desculpas. – disse Du.
- Você vai ficar surpreso com as coisas que descobri. – disse Pacchi abrindo a grade do elevador.
- Não acha um pouco demais se esconder no subsolo com câmeras espalhadas por todo lado? – perguntou Pedro.
- Cara, agora eu sou um agente secreto, não ficou sabendo? – disse Pacchi – Tenho câmeras, sensores de movimento, visão de calor... Sou importante demais, não posso ficar exposto.
- E o que você faz de tão importante? – perguntou Natalia.
- Muitas coisas. Trabalho para pessoas importantes, mas tudo é confidencial. – respondeu Pacchi.
Pacchi sentou na única cadeira que havia no subsolo, cercada por três monitores de 22 polegadas e um de 52.
- Não costumo receber visitas. – disse Pacchi – Sentem no chão mesmo ou fiquem de pé, sei lá. Separei o que achei mais importante, vejam no monitor maior. Primeiro, chequei os investimentos de Maddox, mas não encontrei nada em áreas de tecnologia. O cara trabalhava, basicamente, com imóveis, mas tinha umas sujeirinhas, como prostituição, agiotagem, lavagem de dinheiro. Parecia que isso não daria em nada, até que descobri doações semestrais com sete dígitos para uma ONG chamada Vida Melhor. Estranho demais um explorador de mulheres investir numa ONG que busca melhorar as condições de habitantes de países subdesenvolvidos. Não entrava na minha cabeça como essa ONG ganhava tanto dinheiro e não tem um comercial de TV, só um sitezinho malfeito. Segundo o site, eles têm investido em países africanos e asiáticos, só não dizem que tipo de investimento, nem quanto, nem os locais. Suspeito, muito suspeito. Fucei nas contas da ONG e descobri centenas de doações semestrais ou anuais, e nenhuma abaixo de dois milhões de dólares. Tem de tudo nessa lista! Ex-governantes e militares da extinta URSS, empresários e políticos corruptos sul-americanos, famílias que dominam o petróleo no Oriente Médio, manda-chuvas de zaibatsus, banqueiros judeus, cantoras pop estadunidenses e européias... tem de tudo nessa budega!
- E com toda essa grana, como eles ainda não acabaram com a fome no mundo? – perguntou Pedro.
- Essa é fácil: porque nenhum pobre um centavo! – respondeu Pacchi – O dinheiro é usado para financiar pesquisas de nanotecnologia, clonagem, melhoramentos genéticos, armas... Se acontecer uma guerra contra alienígenas super-evoluídos, esses caras estão preparados.
- E contra o inferno? – perguntou Du.
Pacchi coçou a cabeça, fez careta e disse - Acho que o capeta deve pensar duas vezes antes de arrumar treta. Deu um pouco de trabalho, mas achei uns documentos que falam de humanos capazes de usar poderes de anjos, inclusive após o por do Sol. Se chegaram a esse ponto, sabe-se lá o que mais podem fazer.
As luzes se apagaram e os monitores passaram a exibir as imagens das câmeras de seguranças.
- Merda! – gritou Pacchi – Du, abra aquela porta. Pedro, aperte um botão vermelho dentro do elevador. Mocinha, pegue uma arma naquele armário e vê se acerta os invasores e não a gente.
- Achei que era brincadeira o papo de ser perseguido. – disse Du.
- Cara, fudeu! Fudeu! – gritou Pacchi enquanto acompanhava a movimentação pelos monitores – Esquece a porta de saída, Du, eles já estão lá! Pedro, apertou o botão?
- Sim. – respondeu Pedro.
- Então você acabou de destruir a outra saída. – disse Pacchi – Já era! Morri!
- Du, tira a gente daqui logo! – gritou Natália.
Os quatro correram para o portal aberto por Du, saindo no lado de fora do galpão.
- Imbecil, era pra você mandar a gente pra outro país! – disse Natália.
- Esse era justamente o meu plano. – respondeu Du – Falhou, não sei porque.
- Eu acho que sei... – disse Pacchi apontando para o homem, que usava armadura preta e carregava uma lança, que se aproximava.
- Ele ta bloqueando meus poderes. – disse Du – Não consigo conjurar armas, nem teleportar.
Pedro caminhou até o soldado e perguntou – Quem é você? Por que está aqui? Vá embora antes que eu...
Pedro não teve tempo de se esquivar do golpe do soldado e, quando a lança atravessou sua pele, sentiu uma forte descarga elétrica percorrer seu corpo. O soldado ainda deu outra descarga elétrica antes de retirar a lança de Pedro, que ficou imóvel, quase inconsciente. Pacchi disparou um tiro, acertando o soldado na cabeça, fazendo-o cair ao lado de Pedro.
- Se eles conseguem usar os poderes de anjos à noite, só uma bala não resolverá. – disse Du usando a lança do soldado para decapitá-lo – Posso sentir a presença de outros, melhor sairmos logo daqui.
Du conjurou outro portal, esperou Natália e Pacchi passarem para ir em seguida carregando Pedro.
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